Filipa Mendes

Atriz, música e palhaça. Apaixonada pelas artes que potenciam a autenticidade humana, que nos trazem de volta à nossa verdade, ao que somos realmente. 

Atualmente faço parte do grupo profissional de palhaços da Operação Nariz Vermelho que tem por missão levar alegria às crianças hospitalizadas transformando o seu ambiente. 

Em 2014, enquanto estava a estudar Teatro em Barcelona integrei pela primeira vez um grupo de meditação onde se escutavam mantras como música de fundo no decorrer da prática. Rapidamente entendi como me emocionava ao ouvir essas músicas e como elas me faziam sentir em calma, a expandir e em conexão com um Todo, que até ali não me tinha dado conta que existia. Até ali, continuava céptica em relação à espiritualidade. Mas aquele lugar trouxe-me de volta à magia da vida, à alegria e paz de ser criança e confiar no mundo. Quando ouvia estas músicas dentro do grupo não me sentia sozinha, mas muito acompanhada. Depois percebi que não era o grupo que me fazia sentir acompanhada mas a música, o que a música despertava em mim. 

Acredito que a música une as pessoas. É como se nos sintonizássemos todos no mesmo estado de espírito mesmo sem nos conhecermos, pertencendo assim ao momento juntos. Apenas concentrados na música, nas palavras, no som, na vibração…

Depois de me sentir tão ligada a estas músicas e entender que o meu caminho passava por esta prática decidi juntar o meu conhecimento musical. Acompanhar a voz com guitarra. 

Em 2017 visitei a India por um mês bastante intenso para aprofundar os meus conhecimentos sobre os mantras, numa escola onde aprendi a tocar o harmónio e a integrar o Yoga na prática dos mantras. 

Num festival de Yoga em Julho de 2019 tive o privilégio de conhecer Krishna Das, para mim um dos grandes ícones dos Mantras do Ocidente. Este dia foi decisivo para começar o meu projecto pessoal de cantar mantras como forma de me sintonizar nessa vibração que nos liga ao coração. ‘Cantar do coração’ diz Krishna Das. 

Como caminho de auto-conhecimento, partindo de dentro de mim para fora. Esta é a minha tentantiva ao cantar mantras. 

Entendi que o faço para mim, que quando o faço sinto que estou a ir de encontro a mim mesma. Quando canto mantras sinto-me em contato com a minha verdade, com a minha alma, como se o coração tivesse voz. Sinto uma expansão de amor e paz. Penso que é isso que se procura com a música, pois a música é uma arte para expressar o que as palavras por si só não conseguem. Dizem que estes sons em sânscrito nos aproximam ainda mais dessa verdade e conexão com um Todo. 

Talvez seja esse um dos objectivos da religião ao criar igrejas, locais sagrados e cerimónias. O significado de religião é re-ligar.  O que atualmente faz sentido para mim é a partilha de um momento de paz e confiança com tudo e todos. Acredito que fazemos todos parte do mesmo. Vivemos no planeta Terra, somos humanos, nascemos das estrelas, pertencemos à Natureza. Essa celebração de estar vivo, de viver em harmonia com o ser que vive em nós e com todos os que nos rodeiam para mim também está nos mantras. Levam-nos a um estado de meditação. Penso que a meditação é estar consciente do momento, estar presente e quando assim estamos a paz permanece, mesmo que por segundos. 

Ao cantar mantras repetidamente procuro concentrar-me em ficar nesse lugar, cheio e vazio ao mesmo tempo. Tudo e Nada.